“A coragem é valor moral para enfrentar a luta e perseverar nela, nunca a
abandonando sob qualquer pretexto. O esforço contínuo permite o prosseguimento da
ação, que realiza o programa estabelecido.” – Joanna de Ângelis.
Quando jovem fui acostumado a programas de televisão de conteúdo cultural de
relativa profundidade.
Depois de velho, movido pela esperança de reencontrá-los, percorro canais
aleatoriamente.
Num determinado dia, vi uma reportagem sobre uma família muito pobre, dessas
que representam bem a tristeza de muitos brasileiros que não vivem nem com o mínimo
necessário para uma vida decente.
Constituía-se ela no casal e quatro filhos. Os últimos, gêmeos do mesmo sexo,
dois meninos fortes e bonitos. “Apenas” um detalhe: siameses! Exatamente.
Dois meninos unidos pelo ventre. Irão ser submetidos a uma cirurgia para verificar
a possibilidade de separá-los, caso tenham órgãos que permitam ser separados em
número e extensão suficientes.
Mas, francamente falando, não foram as crianças nessa situação o que me
chamou a atenção.
Foi a resignação da mãe que, ainda jovem, cuidava daqueles dois meninos como
se fossem seu maior tesouro, o que, sob o ponto de vista espiritual, são mesmo!
Só a Justiça Divina pode saber qual é o drama anterior que prepara quitação numa
situação dessas! Reputo como falta de caridade e excesso de autoridade ficar levantando
hipóteses diante de um fato que só nos cabe auxiliar na medida em que podemos.
A mãe abraçava com extremo carinho as duas crianças que precisam ser pegas ao
mesmo tempo no colo, já que estão unidas pelo ventre em comum.
E essa mãe jovem acabava sempre por encontrar uma colocação adequada dos filhos em
seu colo. Era admirável vê-la fazendo a mudança de posição das crianças unidas pelo
ventre para poder alimentá-las no seio.
Muitas vezes escorava-se a jovem mãe em uma parede para obter o devido apoio
e alavancar as crianças contra o seu peito devido ao peso apresentado pelos dois
meninos siameses.
A casa em que moravam o casal e esses quatro filhos tinha um cômodo só,
dividido entre as funções de cozinha, quarto e banheiro.
Ficava numa ladeira com muitos degraus para chegar até a rua, o que a mãe realizava
com grande esforço devido ao peso que tinha que carregar representado pelos dois filhos
siameses.
Quando foi informada que muitas doações estavam chegando diante da dificuldade
que ela e o marido enfrentavam, ela respondeu muito alegre que já tinham alugado uma
casa bem maior: de dois cômodos! Para essa mulher os dois cômodos representavam
essa dimensão, embora não os tivesse.
Outra causa de alegria muito grande para essa heroína foi ganhar um presente que
ela desejava muito: uma máquina de lavar roupas! Com ela, disporia de mais tempo para
os dois meninos. E o outro presente ganho que representou a realização de um dos seus
sonhos era uma visita ao zoológico da cidade.
Nunca tinha estado em nenhum lugar desses!
Esse casal e essas crianças preencheram meu Espírito com os ensinamentos de
Joanna de Ângelis enunciado acima: a coragem é o valor moral para enfrentar a luta e
perseverar nela, nunca a abandonando sob qualquer pretexto.
Ao mesmo tempo lembrei-me das palavras de Emmanuel na página intitulada Não
te impacientes: “A Paternidade Divina é amor e justiça para todas as criaturas.
Quando os problemas do mundo te afogueiam a alma, não abras o coração à
impaciência, que ela é capaz de arruinar-te a confiança.
Quantos perderam as melhores oportunidades da reencarnação, unicamente por
se haverem abraçado com o desespero! A impaciência é comparável à força negativa
que, muitas vezes, inclina o enfermo para a morte, justamente no dia em que o organismo
entra em recuperação para a cura.
Aguarda o melhor da vida, oferecendo à vida o melhor que puderes.
Quem trabalha pode contar com o tempo.
Se a crise sobrevém na obra a que te consagras, pede a Deus não apenas te
abençoe a realização em andamento, mas também a força precisa para que saibas
compreender e servir, suportar e esperar”.
Na questão de número 715 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga como pode o
homem conhecer o limite do necessário.
E a resposta nos ensina que o sábio o conhece por intuição e muitos o conhecem
por experiência e às suas custas.
Penso que o casal que a reportagem apresentou para todo nosso país, está sendo
preparado para ser o sábio de amanhã.
Hoje conhece duramente por experiência e às suas custas não importando os
motivos que o isso o levou.
Nas futuras reencarnações, conhecerá pela intuição das lições gravadas na atual
existência.
Tudo isso sabemos através dos ensinamentos do Espiritismo, o que torna o
seguinte alerta válido: nossa conduta na atual reencarnação revela que somos sábios ou
candidatos às experiências dolorosas do aprendizado que a Vida traz conforme nossas
necessidades e rebeldias perante a Lei?
Ricardo Orestes Forni – A Coragem necessária – O Consolador – Nº 325 – 18/08/2013
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