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quarta-feira, 31 de maio de 2023

Caridade - A caridade mais urgente

 Outro dia um amigo me confidenciou:

– Sabe, Wellington, habituamo-nos, eu, meus filhos e esposa, a praticar o Evangelho no Lar. Reunimo-nos todos os domingos e fazemos o estudo evangélico em nossa casa há mais ou menos uns 3 anos. Os benefícios foram grandes, não há o que discutir. Mas interessante é que meu filho caçula de 10 anos, de tanto escutar a palavra caridade em nossos estudos, resolveu propor: 

– Papai, vamos colocar em prática aquilo que aqui estudamos. Vamos praticar a caridade. Gostaria muito de visitar os velhinhos. Pode ser na Vila Vicentina (Instituição na cidade de Bauru que cuida de idosos). Vamos começar a ir até lá, papai. 

E prosseguiu o amigo a comentar: 

– Fiquei envergonhado com a proposta de meu filho. Embora eu lhe ensinasse os princípios cristãos, estava longe, muito longe de praticá-los. Precisei ser alertado pelo garoto de que a caridade que eu tanto falava, para mim, restringia-se apenas a uma palavra solta, sem sentimentos, e proferida maquinalmente em nossos estudos domingueiros. Como você sabe, não irei aqui discorrer sobre os caracteres da caridade que são muito mais abrangentes do que uma visita aos domingos, mas, confesso que fiquei mesmo envergonhado. Foi então que começamos a visitar os velhinhos. Isto já faz 1 ano. Garanto a você: recebemos muito mais do que damos, pois nessas visitas aprendemos na prática que o tempo corre célere e a contagem na Terra é regressiva, meu amigo. Um dia partiremos daqui e poderemos enfrentar a enfermidade, dor, solidão, como tantos por aí. Constatei o quão bom tornou-se essa prática em família. Estamos mais unidos, juntos e, aprendendo, de fato, que se hoje gozamos de saúde amanhã poderá ser diferente. Meus três filhos, todos em idade adolescente, estão vivenciando isso e posso afirmar que mudanças significativas operaram-se no comportamento de todos eles depois desta simples prática de visitar alguém. Parece que a vida tomou um outro sentido, mais profundo, amplo. Atualmente, meu amigo, dedicamos o domingo literalmente ao seguinte trabalho: aula prática à tarde (visita aos velhinhos) e teórica à noite com o estudo evangélico. 

Ao escutar todo o fato narrado pelo amigo, minhas reflexões fizeram-se mais agudas no tocante à caridade em sua forma primeira que é atender o próximo em suas necessidades mais urgentes. 

Lembrei-me então de uma história que consta na obra O Semeador de Estrelas, de Suely Caldas Schubert. 

E conta ela que certa vez o médium baiano Divaldo Franco encontrava-se desanimado, pois o ambiente era desolador. Estavam com 16 doentes em um local pequeno onde não mais cabia gente e o médium questionava-se: O que fazer, meu Deus? 

Dr. Bezerra de Menezes veio em seu socorro e narrou interessante episódio:

Duas damas muito ricas da sociedade de Moscou foram ao Teatro Bolshoi. Assistiram a uma peça, uma ópera, que retratava a história de um rei cristão que termina louco. 

As duas damas, vendo aquela cena choraram, comoveram-se, e todo o teatro também. Quando terminou, elas saíram e encontraram um homem, à porta, pedindo esmola. Uma delas, comovida, tirou o pesado casaco de peles para dar-lhe, pois ele estava sofrendo o frio da noite de Moscou. A outra, porém, impediu-lhe o gesto, explicando: 

– Não faça isso! Quando chegarmos à casa mandaremos cobertores. Seu casaco é muito caro, ele não vai valorizá-lo. 

Ela deteve o gesto bom e concluiu: 

De fato; você tem razão. Vamos fazer como sugeriu. 

Vestiu o casaco novamente, dizendo ao homem: 

–Daqui a pouco eu lhe mandarei cobertores e agasalhos. 

Entraram na carruagem e foram para o palácio. Ao chegarem, tomaram chá com biscoitos, deitaram-se e se esqueceram do necessitado. Pela manhã, a dama generosa lembrou-se do mendigo e, chamando um lacaio, recomendou-lhe que levasse os cobertores. Quando este chegou ao local o homem estava morto. Morrera congelado pela madrugada. 

E explicou o médico dos pobres: 

– Enquanto se discute a caridade, o sofredor morre ao abandono. A caridade tem que ser o socorro do momento, depois, discute-se o que fará. 

Maravilha de lembrança do notável Dr. Bezerra. 

Quanta gente necessita dessa caridade imediata, urgente, sem tempo a perder. De um ouvido amigo, da visita carinhosa, da palavra encorajadora, do abrigo que protege, do abraço que tranquiliza, do telefonema que apazígua as emoções, da sopa servida em tantas instituições, espíritas ou não, espalhadas pelo país. Quanta coisa pode ser feita para amainar corações dilacerados pela dor da enfermidade física ou mesmo moral. As oportunidades de praticar essa caridade urgente são imensas para não dizer infinitas. 

Coloquei-me a pensar na família de meu amigo e na sugestão de seu filho: um gesto simples: visita aos idosos. Que beleza! Fico a imaginar os benefícios advindos de uma iniciativa primária, porém profunda como esta, e que une toda a família em torno de um objetivo nobre: Exercitar o amor! 

Aquela família compreendeu que a teoria é importante – o estudo do Evangelho no Lar –, mas ela não prescinde da prática. Aliaram essas duas maravilhas de Deus – teoria e prática –, e hoje gozam, segundo comentário do próprio amigo, de uma inefável sensação de bem-estar. 

Benditos aqueles que já compreenderam esta máxima e dedicam-se à prática do bem e da caridade! 

Wellington Balbo – A Caridade mais urgente – O Consolador – Nº 246 – 05/02/2012



Caridade - Multiplicar talentos

 “Quantos pães tendes? – Cinco pães e dois peixes, disseram...” 
 (Mateus 14:17.)

O episódio da multiplicação dos pães e peixes, narrado pelo Novo Testamento é, incontestavelmente, uma notável e rica lição que Jesus delegou à humanidade, para servir de norte e bússola às nossas ações quotidianas.

Naquele momento histórico o Cristo não transferiu aos seus discípulos a tarefa de socorrer a multidão faminta, que O buscava sedenta de consolo e alimento. Apenas solicitou que informassem quantos pães e peixes tinham e, após, procedeu à multiplicação dos dois gêneros, permitindo que mais de cinco mil pessoas se alimentassem.

Sem dúvida, um ensinamento profundo e valioso.

É óbvio que ninguém em sã consciência e plena lucidez de raciocínio se proporá a sair pela vida fazendo multiplicações de pães ou outros itens alimentícios, mas de forma alguma estamos impedidos de multiplicar os nossos talentos e recursos, de forma a contribuir para a melhoria do mundo que habitamos.

Multiplicando os pães da paciência conseguiremos conviver com as mais adversas situações e suportar os mais intrincados problemas, aqueles que desafiam o equilíbrio das nossas emoções.

Multiplicando os pães da perseverança haveremos que caminhar com coragem em defesa dos nossos ideais, onde a felicidade e a paz, por certo, figuram como meta e objetivo.

Multiplicando os pães da tolerância seguiremos firmes na compreensão das diferenças que nos cercam, principalmente no âmbito familiar, onde devemos entender que cada criatura traz consigo a própria individualidade pensando e reagindo de modo particular, como nós fazemos também.

Multiplicando os pães do altruísmo teceremos a teia das nossas ações sempre voltadas para o bem, onde o ser humano, em quaisquer situações e momentos, será eleito como a preocupação máxima e interesse maior das nossas realizações.

Multiplicando os pães da fé e da confiança nunca deixaremos que acreditar piamente que não estamos sozinhos, mesmo que aparentemente o mundo nos mantenha isolados, pois do olhar da Providência Divina ninguém está alheio.

Multiplicando os pães do amor veremos todas as criaturas do caminho como irmãos a serem considerados, dignos merecedores da nossa solidariedade e respeito.

Multiplicando os pães da alegria contagiaremos aqueles que seguem conosco, informando a eles que o otimismo e a esperança são conquistas que não podem deixar de residir no íntimo dos nossos corações.

Multiplicando os pães do silêncio, saberemos como conter a palavra descortês e às vezes descuidada que, se lançada, poderá destilar o fiel da crítica ou o azedume do comentário menos feliz, além de evitar, muitas vezes, sérias contendas ou terríveis e inoportunas discussões.

Multiplicando os pães da humildade teremos plenas condições de combater as investidas deletérias do orgulho que tanto sofrimentos causam no seio social, e segurar os ataques perigosos do egoísmo, essa chaga nefasta que aprisiona os nobres sentimentos humanos.

Se fisicamente não temos condições de multiplicar pães e peixes, como fez Jesus Cristo, nada impede que façamos crescer nosso ânimo, coragem, determinação e boa vontade, para, com os recursos de que dispomos, contribuir para a construção de uma sociedade mais fraterna.

        Reflitamos.

Waldenir Aparecido Cuin – Multiplicar talentos – O Consolador – Nº 246 – 05/02/2012


Caridade - Amor de servir e coragem de suportar

 Socorrer através da prece também é caridade

“Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que constitui a lei e os profetas.”- Jesus (Mt., 7:12)

Toda criatura, sem exceção, está no curso da Lei do Progresso, daí Jesus afirmar que não se perderia nenhuma das ovelhas que o Pai Lhe confiara. 

Isabel de France e Lamennais fazem um discurso muito forte no capítulo onze, (in fine) do livro “O Evangelho segundo o Espiritismo”, que nos leva a graves e profundas reflexões, principalmente no mundo de hoje, onde a violência e a criminalidade campeiam. 

Falam da caridade para com os criminosos, quando tantas vozes se elevam em favor da pena de morte. 

Realmente é preciso reunir muita coragem para suportar o testemunho de cenas tão escabrosas, quando chegamos mesmo a imaginar como conseguem certas criaturas descer tanto!. 

Ora, claro está que a comiseração não se acumplicia com a impunidade. Faz-se necessário isolar da convivência social o ser que não consegue manter-se nos patamares razoáveis da civilidade. 

Mas, nem por isso, esses réprobos estão definitiva e irremediavelmente condenados, vez que o perdão divino, revestido pela misericórdia do Pai alcançá-los a no momento em que se arrependerem (e esse momento fatalmente chegará, mais cedo ou mais tarde). 

Depois do arrependimento, a Lei de Causa e Efeito se encarregará das fases seguintes que podem levar séculos: expiação e regeneração. 

O episódio da mulher flagrada em adultério é significativo: Quem pode atirar a primeira pedra? Hoje como ontem, ninguém!. 

Isabel argumenta: "Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra Sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois eles não conhecem Deus como O conheceis, e muito menos lhes será pedido que a vós. 

Não julgueis, oh! Não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para as faltas em que, sem cessar, incorreis. 

(...) Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. 

Não vos cabe dizer de um criminoso: ‘É um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem’.

Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria Ele, se visse junto de Si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra." 

Conclama Albino Teixeira (1) "Um pensamento de simpatia e de amor para os nossos irmãos que se recuperam!... Muitos são chamados criminosos, mas, em verdade, foram doentes. Sofriam desequilíbrios da Alma, que se lhes encravavam no ser, quais moléstias ocultas. Praticaram delitos sim; acreditaram-se em regime de exceção, quando o orgulho lhes assoprava a mentira; renderam-se às tentações e foram pilhados na armadilha do mal... Não lhes fites o desacerto! Enfermos graves da Alma, todos nós fomos ontem e ainda hoje não vencemos todos os desafios. 

Rende, pois, graças a Deus, se já podes prestar auxílio, porque, se chegaste ao grau de restauração em que te encontras, é que alguém caminhou pacientemente contigo, com bastante amor para servir-te e bastante coragem para suportar-te". 

Rogério Coelho – Amor de servir e coragem de suportar 
                                                                                    – O Consolador – Nº 267 – 01/07/2012 

(1) Albino Teixeira, O Espírito da Verdade, (cap. 83, p. p. 192-193), (Chico Xavier)

Caridade - A coragem necessária

 “A coragem é valor moral para enfrentar a luta e perseverar nela, nunca a abandonando sob qualquer pretexto. O esforço contínuo permite o prosseguimento da ação, que realiza o programa estabelecido.” – Joanna de Ângelis.

Quando jovem fui acostumado a programas de televisão de conteúdo cultural de relativa profundidade.

Depois de velho, movido pela esperança de reencontrá-los, percorro canais aleatoriamente.

Num determinado dia, vi uma reportagem sobre uma família muito pobre, dessas que representam bem a tristeza de muitos brasileiros que não vivem nem com o mínimo necessário para uma vida decente.

Constituía-se ela no casal e quatro filhos. Os últimos, gêmeos do mesmo sexo, dois meninos fortes e bonitos. “Apenas” um detalhe: siameses! Exatamente.

Dois meninos unidos pelo ventre. Irão ser submetidos a uma cirurgia para verificar a possibilidade de separá-los, caso tenham órgãos que permitam ser separados em número e extensão suficientes.

Mas, francamente falando, não foram as crianças nessa situação o que me chamou a atenção.

Foi a resignação da mãe que, ainda jovem, cuidava daqueles dois meninos como se fossem seu maior tesouro, o que, sob o ponto de vista espiritual, são mesmo!

Só a Justiça Divina pode saber qual é o drama anterior que prepara quitação numa situação dessas! Reputo como falta de caridade e excesso de autoridade ficar levantando hipóteses diante de um fato que só nos cabe auxiliar na medida em que podemos.

A mãe abraçava com extremo carinho as duas crianças que precisam ser pegas ao mesmo tempo no colo, já que estão unidas pelo ventre em comum.

E essa mãe jovem acabava sempre por encontrar uma colocação adequada dos filhos em seu colo. Era admirável vê-la fazendo a mudança de posição das crianças unidas pelo ventre para poder alimentá-las no seio.

Muitas vezes escorava-se a jovem mãe em uma parede para obter o devido apoio e alavancar as crianças contra o seu peito devido ao peso apresentado pelos dois meninos siameses.

A casa em que moravam o casal e esses quatro filhos tinha um cômodo só, dividido entre as funções de cozinha, quarto e banheiro. Ficava numa ladeira com muitos degraus para chegar até a rua, o que a mãe realizava com grande esforço devido ao peso que tinha que carregar representado pelos dois filhos siameses.

Quando foi informada que muitas doações estavam chegando diante da dificuldade que ela e o marido enfrentavam, ela respondeu muito alegre que já tinham alugado uma casa bem maior: de dois cômodos! Para essa mulher os dois cômodos representavam essa dimensão, embora não os tivesse.

Outra causa de alegria muito grande para essa heroína foi ganhar um presente que ela desejava muito: uma máquina de lavar roupas! Com ela, disporia de mais tempo para os dois meninos. E o outro presente ganho que representou a realização de um dos seus sonhos era uma visita ao zoológico da cidade.

Nunca tinha estado em nenhum lugar desses!

Esse casal e essas crianças preencheram meu Espírito com os ensinamentos de Joanna de Ângelis enunciado acima: a coragem é o valor moral para enfrentar a luta e perseverar nela, nunca a abandonando sob qualquer pretexto.

Ao mesmo tempo lembrei-me das palavras de Emmanuel na página intitulada Não te impacientes: “A Paternidade Divina é amor e justiça para todas as criaturas.

Quando os problemas do mundo te afogueiam a alma, não abras o coração à impaciência, que ela é capaz de arruinar-te a confiança.

Quantos perderam as melhores oportunidades da reencarnação, unicamente por se haverem abraçado com o desespero! A impaciência é comparável à força negativa que, muitas vezes, inclina o enfermo para a morte, justamente no dia em que o organismo entra em recuperação para a cura.

Aguarda o melhor da vida, oferecendo à vida o melhor que puderes.

Quem trabalha pode contar com o tempo.

Se a crise sobrevém na obra a que te consagras, pede a Deus não apenas te abençoe a realização em andamento, mas também a força precisa para que saibas compreender e servir, suportar e esperar”.

Na questão de número 715 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga como pode o homem conhecer o limite do necessário.

E a resposta nos ensina que o sábio o conhece por intuição e muitos o conhecem por experiência e às suas custas.

Penso que o casal que a reportagem apresentou para todo nosso país, está sendo preparado para ser o sábio de amanhã.

Hoje conhece duramente por experiência e às suas custas não importando os motivos que o isso o levou.

Nas futuras reencarnações, conhecerá pela intuição das lições gravadas na atual existência.

Tudo isso sabemos através dos ensinamentos do Espiritismo, o que torna o seguinte alerta válido: nossa conduta na atual reencarnação revela que somos sábios ou candidatos às experiências dolorosas do aprendizado que a Vida traz conforme nossas necessidades e rebeldias perante a Lei?

Ricardo Orestes Forni – A Coragem necessária – O Consolador – Nº 325 – 18/08/2013



Caridade - Essência da perfeição

 Como distinguir a perfeição? Qual sua verdadeira essência? Onde ela se estrutura?

É fácil responder. Ela está na caridade. A caridade em toda sua extensão e abrangência, claro que não restrita na esmola ou na doação de coisas materiais. Mas, sim, a caridade, especialmente, dos relacionamentos. A caridade implica a prática de todas as outras virtudes.

Claro! A caridade é amor, é tolerância, é paciência, é humildade, é resignação ativa, é perdão! O amor – ou caridade – compreende, aceita, auxilia, acolhe!

Basta lembrar a famosa Epístola de Paulo sobre a caridade. Basta lembrar os ensinos de Jesus ou mesmo a caridade de Deus para conosco, em todos os sentidos.

A caridade não acusa e, mais, estende as mãos do auxílio. Atua no dever de amparar, vai ao encontro das misérias, inclusive das ocultas. Ela é solidária, ela confia, ela usa a fé e a esperança. A caridade jamais marginaliza, não tem preconceitos, não despreza, nem humilha. Ela, a caridade, é mãe de todas as virtudes, porque sempre se coloca no lugar do outro, pensa sempre na dificuldade alheia. A caridade não tem remorso, nem arrependimento, nem guarda culpas, porque suas ações são sempre no sentido da bondade, da solidariedade, da fraternidade.

E há um detalhe encantador: quando estamos em dúvida sobre qualquer questão de relacionamentos ou decisões a tomar, basta consultá-la. Ela responderá com critério e justiça, bondade e acolhimento, dará o norte para a ação.

A caridade não é omissa, ela age sempre no bem.

A caridade é virtude excelente, imprescindível. É a âncora que salva dos precipícios ou dos desastres morais. Notem os amigos que à sombra dessa excelente virtude viveremos em paz na Terra, porque nos respeitaremos e nos auxiliaremos mutuamente, e no Céu também porque estaremos em harmonia com a própria consciência. Lembrando que céu e inferno são meros estados de consciência, ou seja, estaremos no céu da serenidade, da harmonia, da paz de consciência ou no inferno do arrependimento, da culpa, do remorso...

A caridade salva, isto é, preserva dos desastres e quedas morais, porque ela é exatamente preventiva das misérias morais e sociais. A caridade sempre socorre, estende a mão, observa, avalia se os próprios gestos não trarão prejuízos e por aí afora. Vejamos, pois, a extensão da palavra e da própria virtude em si. Ela é doce, benfazeja, tranquila, perene e serena.

Por isso Allan Kardec proclamou: Fora da caridade não há salvação. E estabeleceu como instrumentos de ação o tripé: Trabalho, Solidariedade, Tolerância. 

Orson Peter Carrara – Essência da perfeição – O Consolador – Nº 211 – 29/05/2011

Caridade - A Caridade: uma espécie de bem

 Talvez cause estranheza a muitos a afirmação que a Caridade é apenas uma espécie do Bem. Acostumamo-nos a pensar nela como qualquer bem realizado. Sem nenhuma distinção adicional. Uma leitura atenta das obras básicas, no entanto, nos demonstra o contrário. 

Como, então, podemos definir a Caridade? O que efetivamente a caracteriza? Vejamos o seguinte: não podemos negar que muitas ações realizadas pelas pessoas, nas suas interações com o mundo físico e social, têm como consequência um bem, seja para outrem, seja para si mesmas. Todavia, podemos daí afirmar que todas as espécies de bem são Caridade? Se não, qual será a diferença? Para explicar melhor daremos dois exemplos simples: 

(1) Digamos que um estudante universitário que passa por problemas financeiros ao observar as dificuldades de aprendizado de um colega de aula que tem uma irmã muito bonita e desimpedida para relacionamentos afetivos, resolva ajudá-lo, dando-lhe lições sobre o conteúdo que o colega desconhece, mas para isso nada cobra dele; ensina tudo o que sabe pela pura satisfação de ver o colega aprender o conteúdo e ser aprovado. 

Digamos agora que: (2) outro estudante universitário que enfrenta os mesmos problemas financeiros, vendo as dificuldades de aprendizado do colega, resolva ajudá-lo, e também nada cobre, mas lhe ensina somente com o objetivo de angariar a sua amizade para poder aproximar-se da irmã dele para conquistá-la. 

Nestes exemplos observamos uma semelhança e duas diferenças. Em ambos os exemplos o resultado final foi um bem: o universitário em dificuldades recebeu as lições que necessitava. Quanto às diferenças vemos que, no exemplo 1, o estudante realiza a sua ação benéfica sem buscar vantagens para si; seu único objetivo é ver o colega ser aprovado. Já no exemplo 2, o universitário também realiza uma ação benéfica, mas o sentimento que o move não é o de ver o colega ser aprovado; o que ele deseja é simplesmente usá-lo como meio para aproximar-se de sua bela irmã. O elemento de diferenciação entre ambos é que o primeiro produz um bem com desinteresse pessoal, enquanto o segundo também produz um bem, mas com interesse pessoal. O segundo elemento de diferenciação é a intencionalidade. No exemplo 1 o universitário quer produzir um bem para outro, enquanto no exemplo 2, o universitário quer produzir um bem para si mesmo, usando o colega apenas como um instrumento para atingir os seus objetivos. Temos assim suas finalidades essencialmente diferentes. No exemplo 1 a ação é autotélica, isto é, a intenção do agente é produzir um bem para outrem; a finalidade é o bem pelo próprio bem. No exemplo 2, a ação é heterotélica, ou seja, a intenção é produzir um bem apenas como meio para a obtenção de outra finalidade. 

Para definir a Caridade usemos a lógica formal. Esta ensina que a espécie é definida pelo gênero e pela diferença específica. Por exemplo, sabemos que o Homem é um animal racional. A animalidade é o gênero, e a capacidade de pensar, a racionalidade, é a diferença específica, ou seja, algo que existe somente nele e não nos outros animais. No caso da Caridade, e pelos exemplos apresentados, notamos que o gênero é o Bem e a diferença específica é o “desinteresse pessoal”. Nossa definição, então, é a seguinte: Caridade é a operação desinteressada cujo fim é o bem de outrem. 

O que está inerente a estas duas posições quanto à finalidade é o sentido que se dá à intenção. É por este motivo que tanto os Espíritos da codificação quanto o próprio Kardec colocam o desinteresse pessoal como elemento central da Caridade. Assim, a Caridade é ação cuja finalidade é o Bem, mas realiza este Bem sem buscar primeiramente o bem do agente, daquele que a realiza. Em outras palavras, o agente não quer obter nenhuma vantagem para si mesmo, em primeiro lugar dessa ação. 

Convém, agora, esclarecer o significado de interesse e desinteresse para que formemos um entendimento mais completo da questão da Caridade. O interesse ou desinteresse implicam a intencionalidade, isto é, a intenção dirigida para algo. 

Os dicionários vulgarmente definem interesse como a vantagem, utilidade ou o proveito que alguém obtém de algo, para si mesmo; pode ser um ganho qualquer, favores, dinheiro, rendas, promoção pessoal, apreciação pública, uma função ou um cargo, uma melhor posição social ou profissional, ou como uma relação de reciprocidade entre um indivíduo e um objeto que corresponde a uma determinada necessidade daquele. Interessado é aquele que tem interesse em alguma coisa. O desinteresse, portanto, é o contrário do interesse, ou seja, no desinteresse não se busca alcançar nenhuma vantagem, utilidade ou proveito pessoal. É necessário, no entanto, não confundir o desinteresse com a indiferença, pois são coisas absolutamente distintas. Assim, a pessoa desinteressada é aquela que age sem a intenção de obter qualquer vantagem para si mesma, mas, sim, busca o Bem para outrem; significa dizer que é uma ação autotélica. 

Na acepção filosófica, a ação desinteressada é aquela que tem por finalidade a produção do bem pelo próprio bem. A pessoa desinteressada será, então, aquela que produz o bem para obter como resultado, como finalidade, o bem, não para si mesma, mas para outrem. O interesse é, por sua vez, algo que tem um fim fora de si mesmo. Isto quer dizer que o bem é apenas um meio para outra finalidade, para obter isto ou aquilo. Assim, a pessoa interessada é aquela que pratica o bem como meio para atingir finalidades outras, mas que redundem em bem primeiramente para si mesma, e somente residualmente para outrem, se sobras houver e quando houver. 

Algumas dúvidas sempre afloram à mente de quem reflete sobre esta questão da intencionalidade. Será que aquele que faz o Bem sabendo que este bem terá uma consequência positiva para si mesmo está, dessa maneira, agindo desinteressadamente? 

Ora, como o desinteresse pessoal é central para a Caridade, e desinteresse quer dizer que a intenção de um agente em promover o bem para o outro é o fator principal e não o conhecimento da possibilidade de resultados positivos para o agente advindos da sua ação, inferimos que o que importa neste caso é a intenção, que foi de produzir um bem para outrem, e o fato de saber que haveria um resultado positivo para si mesmo não anula esta intenção. Portanto, ter conhecimento dos efeitos secundários de uma ação não constitui interesse pessoal.

Esta dúvida, que poderia causar interpretações equivocadas para a conceituação e a prática da Caridade, foi antevista por Kardec, e colocada na forma de questionamento (questão 897, 897 a, e 897 b, de “O Livro dos Espíritos”) aos Espíritos da codificação. 

Por fim, podemos afirmar, com base nos ensinos dos Espíritos e de Allan Kardec, que a Caridade é um Bem, mas não qualquer Bem. Para ser Caridade este Bem deve atender primeiramente ao critério do desinteresse pessoal. Certamente, todo Bem é necessário, mas somente o Bem que é produzido sem intenções de vantagens pessoais, ocultas ou não, é que pode ser chamada de Caridade. Portanto, a Caridade, no sentido que o Espiritismo lhe dá, é uma das espécies de Bem que o ser humano pode produzir, no entanto, é o único bem que pode libertá-lo do próprio egoísmo.

Ivomar Schuler da Costa – A Caridade uma espécie de bem 
                                                                                    – O Consolador – Nº 442 – 29/11/2015


Caridade - Esmola

“Dai antes esmola do que tiverdes.” - Jesus. (Lucas, 11:41.)

A palavra do Senhor está sempre estruturada em luminosa beleza que não podemos perder de vista.

No capítulo da esmola, a recomendação do Mestre, dentro da narrativa de Lucas, merece apontamentos especiais.

“Dai antes esmola do que tiverdes.”

Dar o que temos é diferente de dar o que detemos.

A caridade é sublime em todos os aspectos sob os quais se nos revele e em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão e agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a.

É justo, porém, salientar que a fortuna ou a autoridade são bens que detemos provisoriamente na marcha comum e que, nos fundamentos substanciais da vida, não nos pertencem.

O Dono de todo o poder e de toda a riqueza no Universo é Deus, nosso Criador e Pai, que empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.

Não olvidemos, assim, as doações de nossa esfera íntima e perguntemos a nós mesmos:

Que temos de nós próprios para dar? Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros? Que reações provocamos no próximo? Que distribuímos com os nossos companheiros de luta diária? Qual é o estoque de nossos sentimentos? Que tipo de vibrações espalhamos?

Para difundir a bondade, ninguém precisa cultivar riso estridente ou sorrisos baratos, mas, para não darmos pedras de indiferença aos corações famintos de pão da fraternidade, é indispensável amealhar em nosso espírito as reservas da boa compreensão, emitindo o tesouro de amizade e entendimento que o Mestre nos confiou em serviço ao bem de quantos nos odeiam, perto ou longe.

É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.

O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: - dai esmola de vossa vida íntima, ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de crescimento e elevação com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao próximo, porque, em verdade, o amor que se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.

Mensagem que consta no livro: Fonte Viva – (psicografia – Chico Xavier) 

Emmanuel – Esmola – O Consolador – Nº 12 – 04/07/2007

Caridade - A Caridade segundo o amor

 A caridade é a virtude que melhor expressa o amor. Não a caridade premeditada, ansiosa por recolher recompensa na Terra ou no céu; mas a ação plena de compreensão humana, tecida do mais puro desprendimento. 

Se o indivíduo não tem amor, a caridade que exerce – privada desse sentimento – é fria e muitas vezes humilhante: quem favorece não deixa de sentir um ar superior que se sobrepõe ao outro, como quem está no comando da situação; quem é favorecido não consegue livrar-se de certa humilhação, abafada a custo pela necessidade. 

Quando não há amor presidindo a aproximação, é difícil haver energia pura conectando a mão que dá à que recebe. É como se aquele que recebesse captasse na intenção do doador aquilo que lhe falta. 

Allan Kardec, por compreender a abrangência dessa virtude decantada por Paulo, em I Coríntios, 13,1-13, elegeu-a como “a alma do Espiritismo” e cunhou a frase emblemática cujo sentido deve guiar as ações humanas: “Fora da caridade não há salvação”. Como síntese moral esse pensamento é perfeito, pois não exclui ninguém da possibilidade de atingir a plenitude. 

Segundo a ideia espírita, a caridade que “salva” está associada ao sentimento profundo e verdadeiro traduzido nas ações de um Francisco de Assis, de uma Teresa de Calcutá, de um Francisco Cândido Xavier, movidos que foram pelo amor autêntico. 

Estes exemplos, por parecerem tão distantes da realidade, não são motivos para que se baixe a cabeça, achando que não se chegará ao ideal. Estes luminares da caridade, seguindo o modelo Jesus, reencarnaram na Terra exatamente para mostrar como se deve agir para com o semelhante. 

O sentimento elevado do amor se manifestará em cada um de nós, mais cedo ou mais tarde, com as experiências da vida, com as lições repetidas, com o progresso espiritual. E a clara lição de Jesus sobre o “óbolo da viúva” – a caridade natural – já compreendida pelo intelecto, o será também pelo coração. 

Cláudio Bueno da Silva – Caridade Segundo o amor – O Consolador – Nº 471 – 26/06/2016

Caridade - Caridade segundo a Doutrina Espírita

 “(...) porque terão de responder por todo o bem que podiam fazer e não fizeram (...)” 
- O Livro dos Espíritos, questão 896.

Na questão 893 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga qual a mais meritória das virtudes, obtendo dos Espíritos a resposta de que é a caridade desinteressada. Mas o que é caridade segundo a Doutrina Espírita? Para facilitar a compreensão, pode-se dividi-la em caridade material e moral.

A caridade material compreende aquilo que tem manifestação no mundo físico, devendo ser exercida com desprendimento e amor, sem humilhar quem recebe. O amor se manifesta na maneira como se dá, não incluindo os que doam algo apenas para se verem livres de quem pede ou para aliviar a consciência, mas sim a atitude realizada com real vontade de auxiliar. Já o desinteresse consiste em não esperar reconhecimento, gratidão ou retorno de qualquer espécie pela ação realizada, consoante a frase: “que a mão esquerda não saiba o que dá a mão direita”. Assim, pode-se dar muito ou pouco, com muito ou pouco amor.

A caridade moral, como a entendia Jesus, é elucidada na questão 886 de O Livro dos Espíritos, como sendo benevolência (boa vontade) para com todos, indulgência (tolerância) para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas. Esse conceito de caridade reúne todos os deveres do ser humano para com seu próximo, podendo ser exercitada através de três perguntas (1)

A – Ao pensar, julgando ou avaliando o próximo, como devo proceder? Com indulgência (tolerância);

B – Como deve ser a minha ação para com o meu próximo? Com benevolência (boa vontade); 

C – Como devo receber a ação do próximo? Com perdão. Assim, a caridade moral pode ser (2) 

* verbal: palavras que consolam, esclarecem e edificam, prece que aproxima de Deus, silêncio ou suavidade no falar;

* mental: ondas mentais sob a forma de perdão, prece e amor, emitidas em favor de encarnados e desencarnados;

* gestual: afago fraternal, abraço, aperto de mão, sorriso, carinho;

* passiva: silêncio diante de uma ofensa, atenção perante um desabafo;

* mediúnica: amparo a encarnados e desencarnados através da faculdade mediúnica.

Sempre há condições e oportunidades para o exercício da caridade, pois não há quem não possa doar algo, dedicar atenção a um irmão, vibrar positivamente por alguém; cada indivíduo, porém, procura e encontra meios de realizar o bem de acordo com a sua evolução espiritual. Mas, à medida que compreende que fora da caridade não há salvação (evolução), o Espírito esforça-se por praticá-la em suas diversas manifestações, eliminando assim, gradualmente, o orgulho e o egoísmo, na exata proporção que se eleva a Deus. 

Cláudia Schmidt – Caridade Segundo a Doutrina Espírita 
                                                                                – O Consolador – Nº 187 – 05/12/2010 

(1) MASSI, Cosme D. B. A Caridade segundo o Espiritismo. Revista A Reencarnação. FERGS Editora. 

(2) COELHO, José Marcelo Gonçalves. Caridade Integral. Revista Internacional de Espiritismo. Editora O Clarim. Novembro de 2001.
 

Caridade - Na ora da caridade

Não te furtarás ao serviço de emenda e nem recusarás a constrangedora obrigação de restaurar a realidade, mas unge o coração de brandura para corrigir abençoando e orientar construindo!... 

A dificuldade do próximo é intimação à beneficência, entanto, assim, como é preciso condimentar de amor o pão que se dá para que ele não amargue a boca que o recebe, é indispensável também temperar de misericórdia o ensinamento que se ministra para que a palavra esclarecedora não perturbe o ouvido que a recolhe. 

Na hora da caridade, não reflitas apenas naquilo que os irmãos necessitados devem fazer!... Considera igualmente aquilo que lhes não foi possível fazer ainda!... 

Coteja as tuas oportunidades com as deles. Quantos atravessaram a infância sem a refeição de horário certo e quantos se desenvolveram, carregando moléstias ocultas! Quantos suspiraram em vão pela riqueza do alfabeto, desde cedo escravizados à tarefas de sacrifício e quantos outros cresceram em antros de sombra, sob as hipóteses da viciação e do crime!... Quantos desejaram ser bons e foram arrastados à delinquência no instante justo em que o anseio de retidão lhes aflorava na consciência e quantos foram colhidos de chofre nos processos obsessivos que os impeliram a resvaladouros fatais! 

Soma as tuas facilidades, revisa as bênçãos que usufruis, enumera as vantagens e os tesouros de afeto que te coroam os dias e socorre aos companheiros desfalecentes da estrada, buscando soerguê-los ao teu nível de entendimento e conforto. 

Na hora da caridade, emudece as humanas contradições e auxilia sempre, mas clareando a razão com a luz do amor fraterno, ainda mesmo quando a verdade te exija duros encargos, semelhantes às dolorosas tarefas da cirurgia. 
                                                 Emmanuel


terça-feira, 30 de maio de 2023

Caridade - Mensagem de André Luiz

A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.

O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.

Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiadamente simples.

Permutar a roupagem física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem que ver com as soluções profundas do destino e do ser. 

Oh! caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração! É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!...

Seria extremamente infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do Infinito. 

Uma existência é um ato. 
Um corpo - uma veste. 
Um século - um dia. 
Um serviço - uma experiência. 
Um triunfo - uma aquisição. 
Uma morte - um sopro renovador. 

Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda? 

E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais e posições definitivas! 

Ai! por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito! 

É preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira - ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas. 

Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa. 

Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma idéia dessa verdade fundamental.

Grato, pois, meus amigos! 

Manifestamo-nos, junto a vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a idéia da eternidade. Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar. Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que "o espírito sopra onde quer".

E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração.

Que o Senhor nos abençoe.          André Luiz.

Caridade - Necessidades da sintonia

     Não se veja em nossas assertivas qualquer tendência à inutilização da vontade do médium, com evidente desrespeito à personalidade humana, inviolável em seu livre arbítrio.

  Anotamos simplesmente as necessidades da sintonia, no trabalho das Inteligências associadas para fins enobrecedores, porque, em verdade, os médiuns trazidos ao serviço de reflexão do Plano Superior, quer nas obras de caridade e esclarecimento, quer nas de instrução e consolo, precisarão abolir tudo o que lhes constitua preocupações-extras, tanto no que se refira à perda de tempo quanto no que se reporte a interesses subalternos da experiência vulgar, sustentando-se, por esforço próprio e não por exigência dos Espíritos Benevolentes e Sábios, em clima de responsabilidade, alegremente aceita, e de trabalho voluntário, na preservação e enriquecimento dos agentes condutores da sua vida mental, no sentido de valorizar a própria cooperação, com fé no bem e segura disposição ao sacrifício, no serviço a efetuar-se.

    Naturalmente, estudamos, no presente registro, a mediunidade em ação construtiva e não o fenômeno mediúnico, suscetível de ser identificado a cada passo, inclusive nos problemas obscuros da obsessão.

Caridade - Força eletromotriz e força mediúnica

     Compreendemos que se dispomos, em toda parte, de fontes de força eletromotriz, mediante a sábia distribuição das cargas elétricas, encontrando-as, a cada passo, na extensão da indústria e do progresso, temos igualmente variados mananciais de força mediúnica, mediante a permuta harmoniosa, consciente ou inconsciente, dos princípios ou correntes mentais, sendo possível observá-los, em nosso caminho, alimentando grandes iniciativas de socorro às necessidades humanas e de expansão cultural. 

    Usinas diversas espalham-se na paisagem terrestre, alentando sistemas de luz e força, na criação do conforto e da atividade, em cidades e vilarejos, campos e estâncias, e associações mediúnicas de vária espécie se multiplicam nos quadros morais do mundo, nutrindo as instituições maiores e menores da Religião e da Ciência, da Filosofia e da Educação, da Arte e do Trabalho, do Consolo e da Caridade, impulsionando a evolução da espiritualidade no plano físico.

Caridade - Vida social dos desencarnados

    - Como se apresenta a vida social dos Espíritos desencarnados? 
   - No Plano Espiritual imediato à experiência física, as sociedades humanas desencarnadas, em quase dois terços, permanecem naturalmente jungidas, de alguma sorte, aos interesses terrenos. 
     Egressas do próprio mundo em que se lhes tramam os elos da retaguarda, quando não se desvairam nas faixas infernais, igualmente imanizadas ao Planeta de que se originam, trabalham com ardor, não só pelo próprio adiantamento, como também no auxílio aos que ficaram. 
    Naturalmente as almas que constituem a percentagem a que nos referimos, distanciadas ainda do aprimoramento ideal, procuram aperfeiçoar em si mesmas as qualidades nobres menos desenvolvidas, buscando clima adequado que lhes favoreça o trabalho. 
   Convictas de que tornarão à Terra para a solução dos problemas que lhes enevoam ou afligem o campo íntimo, situam-se em tarefas obscuras, junto aos semelhantes, encarnados ou desencarnados, quando se reconhecem vitimadas pela vaidade ou pelo orgulho que ainda lhes medram no seio, e localizam-se em aprendizados valiosos da inteligência, em se vendo inábeis para os serviços especializados do pensamento, não obstante os talentos sentimentais que já entesourem consigo. 
   Quase todas, no entanto, obedecem aos ditames do amor ou do ideal que lhes inspiram a consciência. 
    Aglutinam-se em verdadeiras cidades e vilarejos, com estilos variados, como acontece aos burgos terrestres, característicos da metrópole ou do campo, edificando largos empreendimentos de educação e progresso, em favor de si mesmas e a benefício dos outros. 
   As regiões purgativas ou simplesmente infernais são por elas amparadas, quanto possível, organizando-se aí, sob o seu patrocínio, extensa obra assistencial. 
  No plano físico, a equipe doméstica atende à consanguinidade em que o vínculo é obrigatório, mas, no plano extrafísico, o grupo familiar obedece à afinidade em que o liame é espontâneo. 
    Por isso mesmo, na esfera seguinte à condição humana, temos o espaço das nações, com as suas comunidades, idiomas, experiências e inclinações, inclusive organizações religiosas típicas, junto das quais funcionam missionários de libertação mental, operando com caridade e discrição para que as idéias renovadoras se expandam sem dilaceração e sem choque.          Com esses dois terços de criaturas ainda ligadas, desse ou daquele modo, aos núcleos terrenos, encontramos um terço de Espíritos relativamente enobrecidos que se transformam em condutores da marcha ascensional dos companheiros, pelos méritos com que se fazem segura instrumentação das Esferas Superiores. 
                                                                                Uberaba, 14/5/58.

sábado, 20 de maio de 2023

Caridade - A caridade da paz

Para muitos, isso pode parecer sinônimo de atitudes complexas, envolvendo, na maioria das vezes, a doação de bens materiais.

Mas há um tipo básico de beneficência ao alcance de todos, da qual habitualmente se esquece.

À vista disso, se exibir a figura da mágoa, na palavra ou na face, ela se expande, como um tóxico mental.

Um mal que só a você atingia passa a afligir todos que o rodeiam.

Quando a poeira invade seu reduto doméstico, obriga-o a limpar e a recuperar a pureza do ambiente que frequenta.

O mesmo ocorre se você se desequilibrar e comportar-se asperamente, em face dos transtornos habituais da vida.

Será necessário despender força e diligência para reparar os estragos que a sua intemperança causou.

Inúmeros pedidos de desculpas deverão ser formulados, dentre diversas outras reparações que se façam indispensáveis.

Muitas sensibilidades podem ser afetadas por sua rudeza, pondo a perder amizades e simpatias preciosas.

Se o desequilíbrio for um hábito em sua vida, tanto pior.

Afinal, todos tendem a ser menos compreensivos com alguém que adota de forma costumeira condutas deselegantes.

Entretanto, você pode escolher pairar acima de desgostos e inquietações, mantendo tranquilidade e bom ânimo.

Sua mensagem de otimismo e renovação também prosseguirá adiante, espalhando bênçãos e paz.

A energia positiva que você espalha, angaria em seu favor simpatia e cooperação.

Os estados negativos da mente, como tristeza e azedume, angústia e inconformidade, constituem sombras que o entendimento e a bondade são chamados a dissipar.

Mais importante do que parecer é ser.

Constitui equívoco evidente a idéia de que a caridade se resume em esmolas, de preferência, visíveis a terceiros.

Isso não passa, na maioria das vezes, de manifestação de um psiquismo desequilibrado, de um ego inflado.

Por certo, a caridade material é valiosa, mas o móvel de quem deseja fazer o bem deve ser o de auxiliar o próximo, e não o de brilhar.

Fossem todos generosos, compreensivos, pacíficos e honestos e a Terra logo se converteria em um paraíso.

Permaneçamos sempre conscientes de que a única fórmula para o exercício dessa elementar beneficência da paz é esquecer o mal e fazer o bem.

Na verdade, somente a criatura consagrada a trabalhar, servindo ao próximo, não dispõe de recursos para entediar-se e nem encontra tempo para ser infeliz.

Pensemos nisso.

Trata-se do cuidado de ocultar dos outros os próprios aborrecimentos, a fim de auxiliar.

Talvez você haja iniciado o dia sob a intromissão de contratempos que lhe espancaram a alma.

Talvez o esforço silencioso para domar o próprio mau gênio não chame a atenção de ninguém.

Isso pode frustrar, de algum modo, eventual expectativa de parecer virtuoso aos olhos alheios.

Sob esse enfoque, avulta de importância o esforço em colaborar para a paz do mundo, mediante uma vontade firme, aplicada no domínio dos próprios desequilíbrios.

Os homens sofrem muito mais pelo contato recíproco com os vícios de seus semelhantes do que com as condições materiais do planeta que habitam.

Em um mundo carente de paz, todos são chamados a colaborar para o equilíbrio geral.

Assim, a benefício coletivo, evitemos solenizar obstáculos e conflitos, aflições ou desencantamentos que nos surpreendem a marcha.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 68, do
Livro: Segue-me, de Emmanuel, (Em 14.01.2008) 

Caridade - Caridade conforme Jesus

 Qual o sentido da palavra caridade conforme a entendia Jesus?
Allan Kardec propõe, no item 886 de O livro dos Espíritos, uma das mais importantes reflexões de toda a Doutrina Espírita.

Mostrando mais uma vez, claramente, a raiz cristã do Espiritismo, busca em Jesus – o tipo mais perfeito que Deus deu ao homem para lhe servir de guia e modelo – a referência maior da caridade, para que possamos tê-la como base segura e definitiva.

A resposta dos Espíritos, clara e didática, terá consequências em todas as demais obras da Codificação:

Benevolência para com todos; 
indulgência com as imperfeições dos outros; 
perdão das ofensas.

Ser benevolente é agir de boa vontade para com quem quer que seja.

A benevolência está em nossa delicadeza, em nossos gestos de gentileza e de preocupação com as outras pessoas.

Ser benevolente é ser dócil e afável no trato, nas palavras, procurando sempre deixar o outro à vontade.

É pensar no próximo também, e não apenas em nós mesmos, nos nossos problemas, prioridades e urgências.

A benevolência tem o caráter da doação. Doar-se, em primeiro lugar.

Doar o nosso tempo para ouvir alguém, para prestar um favor, um auxílio mínimo que seja, até os grandes gestos de altruísmo que, por vezes, nos fazem dedicar toda uma parte de nossa vida a alguém especial.

A benevolência abrange ainda, em nuance importante, a filantropia, a esmola dada com sentimento de carinho e atenção.

Num mundo onde ainda tantos carecem do necessário para a sobrevivência material, a assistência social aos carentes faz-se urgente e indispensável.

Indulgência é misericórdia, compreensão, é tolerância para com as atitudes alheias.

É virtude que deve atuar no pensamento, toda vez que estivermos julgando, analisando e refletindo sobre o outro.

O indulgente não vê os defeitos de outrem, ou se os vê, evita falar deles, divulgá-los.

Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não tornem conhecidos senão daquela pessoa, e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles, escusa plausível, séria.

O homem de bem é indulgente para com as fraquezas dos outros porque sabe que ele mesmo, precisa de indulgência, e se recorda das palavras do Cristo: Aquele que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra.

Não se satisfaz em procurar defeitos nos outros, nem colocá-los em evidência. Se a necessidade o obriga a fazer isso, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.

Finalmente, o perdão das ofensas nos coloca na posição de não mais odiar. É a virtude que triunfa sobre o ressentimento, sobre o ódio, o rancor, o desejo de vingança ou de punição.

Perdoar é dar o direito a cada um de ser como é, e nos dar o direito de ser como estamos – entendendo que nosso estado atual é provisório e devemos estar em constante melhoria.

Benevolência, indulgência e perdão – eis o caminho da caridade, da salvação, da felicidade do Espírito – tão sonhada por nós.

Redação do Momento Espírita, com base no item 886, de
O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, (Em 19.7.2013)

Caridade - A caridade mais urgente

 Outro dia um amigo me confidenciou: – Sabe, Wellington, habituamo-nos, eu, meus filhos e esposa, a praticar o Evangelho no Lar. Reunimo-nos...